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No Habitat de uma Introvertida

Aqui partilho com o mundo tudo o que me inspira e faz parte da minha vida criativa. E se és introvertido/a é provável que aqui te sintas em casa. "I have no special talents. I am only passionately curious." - Albert Einstein

No Habitat de uma Introvertida

Aqui partilho com o mundo tudo o que me inspira e faz parte da minha vida criativa. E se és introvertido/a é provável que aqui te sintas em casa. "I have no special talents. I am only passionately curious." - Albert Einstein

Seg | 18.06.18

Adeus, coisas...

Sandra Sequeira

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 Se pensam que um/a introvertido/a é aborrecido/a, tirem já isso da cabeça. Nós somos até bastante "loucos", às vezes...

 

Esta semana será uma semana marcante na minha vida, por algo que pode ser considerado por muitos uma "grandessíssima asneira"!

 

É a semana em que digo o último adeus a uma grande e bonita casa que ajudei a pensar, a construir (com muita ajuda de familiares e amigos) e da qual disfrutei pouco mais de 4 anos.

 

Foi um sonho tornado realidade, especialmente porque os meus pais nunca tiveram casa própria. 

 

Contudo, quando saí de casa, para viver com o meu namorado, a minha ideia era viver num apartamento.

 

Não sei porquê mas, desde cedo, soube que não me iria casar, que não teria filhos e que viveria num apartamento. Era assim que eu me imaginava no futuro, que é o AGORA (curiosamente sempre me imaginei nos meus trintas... quando a maioria das pessoas pensa é nos dezoito...).

 

Contudo, nós, pela vida fora, vamos fazendo algumas cedências, porque isso faz parte de uma vivência a dois. 

 

E, onde vivo, o padrão é preferir pagar uma casa à Banca a vida toda do que pagar a um senhorio.

 

Eu sempre fui uma "pequena" muito pouco tradicional nas minhas escolhas, mas também sempre fiz mais cedências do que devia...

 

Este foi um desses casos. Acabei por ceder à vontade da outra parte, em comprar uma casa de família, para fazer obras e lá viver, mediante uma prestação paga ao Banco até à reforma (ou talvez ainda além).

 

E confesso que me apaixonei por ela (apesar de não ser completamente ao meu gosto, porque havia um orçamento a respeitar) e fui feliz lá.

 

Na primeira noite que lá fiquei, foi como se tivesse concretizado o sonho da "menina" de 12 anos, que achava a coisa mais inatingível da vida ter uma casa própria tão grande e bonita! 

 

Foi o realizar de um grande desejo, pedido tantas e tantas vezes, por essa "menina"!!!

 

Entretanto, a vida acontece. A rotina instala-se. As coisas acumulam-se nas casas e em nós, sem que nos apercebamos. Quando percebemos, já "perdemos o pé em águas profundas" de acomodação e até mesmo descontentamento.

 

Perto dos 11 anos de vida em comum, atravessámos a nossa grande crise conjugal (aquele que parecia o casal perfeito), o que me fez sair de casa e ir viver para um apartamento, alugado, que cabe todo na minha antiga sala.

 

Convencidos de que a nossa jornada juntos tinha acabado, começamos a tratar de todas as pequenas coisas chatas que implica uma separação, com a facilidade de não sermos casados, mas com a dificuldade de termos um imóvel juntos.

 

Decidimos vender a casa; acordos foram assinados; pessoas foram ver a casa...

 

E entretanto, o que parecia perdido na relação, voltou à tona e acabámos por decidir que valia a pena dar-nos uma nova oportunidade.

 

A peça que falta deste puzzle é que eu, havia já algum tempo, tinha-me interessado pelo, hoje tão popular, Minimalismo. 

 

Tinha começado pelo meu guarda-roupa e estava muito satisfeita com a mudança. Livrei-me de tudo o que não me ficava bem, nem refletia o meu estilo e deixei de perder tanto tempo de manhã a decidir o que ía vestir.

 

Mas mal sabia eu que havia ainda muitas mudanças bem mais importantes por fazer!...

 

Acabei por sair mesmo de casa e apaixonei-me completamente pelo meu novo espaço tão pequeno quanto prático, com porta e persiana do meu quarto para o pátio onde hoje tenho as minhas plantas e onde adoro ler, fazer ponto de cruz e tomar o meu café e os meus chás.

 

A verdade é que me aproveitei desta grande crise para voltar a "abrir as minhas asas" por completo e ser tão EU quanto me era possível, sem quaisquer cedências. 

 

Passado um ano e depois de muitas coisas doadas, outras metidas no lixo e outras até queimadas, sinto uma liberdade difícil de explicar.

 

Isto até ter lido o livro Adeus, coisas de Fumio Sasaki. O que o levou ao Minimalismo foi bastante diferente do que me levou a mim, mas os resultados acabam por ser os mesmos.

 

Ler este livro tranquilizou-me e fez-me perceber que não sou louca. Apesar do que a minha família e alguns amigos possam pensar... 

 

É que isto de trocar uma casa própria por um apartamento alugado suscita alguns "levantares de sobrolhos" e muitos "abanares de cabeças".

 

Costumo ir visitar quase todos os dias a minha avó ao Lar de Idosos, para onde ela foi em finais de Outubro do ano passado e, apesar de ela estar muito bem conformada e até estar com muita mais boa disposição do que quando estava em casa, algumas vezes a ouço dizer que trabalhou tanto para agora nem sequer estar na sua casa.

 

Mas ainda assim, este Sábado, quando lhe disse que esta semana seria a Escritura da venda da minha casa, a cara dela encheu-se de pesar e perguntou-me se eu não queria uma casa grande, porque fui fazê-la assim para agora a vender...

 

Cá para mim, pensei: Avó, eu nunca a devia feito, porque eu sabia que queria outra coisa!... 

 

Tive um ano para pensar no assunto e arrepender-me. Mas quando os nossos olhos se abrem, já não temos maneira de os fechar.

 

Podem chamar-me louca, mas acho que louco é quem se apega tanto às coisas para depois nem as conseguir gozar. 

 

Porquê ter uma casa própria se nem temos a quem a deixar?

 

Será assim tão descabido dar o nosso dinheiro a um senhorio que vive na mesma Vila que nós, onde tem os seus filhos e os netos?

 

Será assim tão normal darmos o nosso dinheiro para que alguns ricos fiquem ainda mais ricos na grande capital do país?

 

Tudo é uma questão de como queremos levar a vida e que pegada queremos deixar no mundo.

 

Eu não faço qualquer questão de deixar qualquer pegada que não seja o ter feito alguém sentir-se bem na minha companhia. Apenas isso.

 

Acredito que existem muitos mais minimalistas por aí, que não precisam de uma casa própria para serem felizes.

 

O que falta é a coragem de o assumir e viver de uma forma fora do padrão tradicional!

 

Os outros, com facilidade, nos fazem sentir um "fracasso" por não termos tudo o que a Sociedade e o Marketing/Publicidade nos fazem crer que precisamos.

 

Eu vou contar-vos um segredo: nunca estive tão satisfeita com a vida como agora que tenho muito menos.

 

Sabem aquela máxima de que MENOS É MAIS? 

 

É mais tempo livre, é mais dinheiro para gastar em experiências, como viajar por exemplo... Nunca conseguia poupar para ir a lado nenhum e este ano já tenho passagens e estadia reservadas para as minhas férias.

 

É menos stress, menos o IMI, menos as pequenas reparações, menos tempo passado a limpar e mais tempo passado a VIVER!

 

A realidade é que vimos ao mundo sem nada e sem nada "à fonte regressamos". 

 

A realidade é que a maioria de nós anda numa ilusão de posse quando, de facto, nada é nosso.

 

Estamos aqui de passagem!!!

 

Chamem-me de louca, mas acho que loucura é querer colocar a felicidade nas coisas, quando a felicidade é uma coisa simples, que vive em nós e na forma como vemos a vida e a vivemos. 

 

Para mim, Minimalismo é ter apenas o necessário para ter conforto e rodear-nos apenas das coisas que adoramos e do que nos faz ter a melhor experiência possível no Presente, como por exemplo, beber o meu café da manhã na minha pequena mesa de pátio, com este livro, que recomendo vivamente, a qualquer pessoa que está a começar a interessar-se pelo Minimalismo, ou mesmo por quem já está há algum tempo nesse caminho, para que saibam que não são loucos!

 

Chegou a hora de dizer Adeus, coisas...

 

Se custa?... Sim.

 

Se nestes últimos 12 meses sofri com a dúvida? Sim.

 

Mas se quiser ser honesta, sou grata por ter conseguido realizar o sonho daquela "menina" de 12 anos, mas a "menina" cresceu e com ela cresceu uma outra consciência.

 

Estamos demasiado programados para "ter coisas", mas a verdade é que só depois de termos a coragem de as abandonar é que nos encontramos a nós próprios verdadeiramente, sem pudores e com uma nova paixão pela vida.

 

 

Imagem: No Habitat de uma Introvertida

 

2 comentários

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    Sandra Sequeira

    18.06.18

    Provavelmente a coisa mais libertadora que fiz até hoje (sei que tu não me achas louca )

    Beijinhos, minha Amiga! Tem uma semana feliz
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