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No Habitat de uma Introvertida

Aqui partilho com o mundo tudo o que me inspira e faz parte da minha vida criativa. E se és introvertido/a é provável que aqui te sintas em casa. "I have no special talents. I am only passionately curious." - Albert Einstein

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Seg | 09.07.18

Sonhos de uma "Marinheira" em declínio

Sandra Sequeira

BARCO.jpg

 

Eu sou uma privilegiada.

 

Vivo mesmo no "coração" dos Açores, onde fica uma das 7 Maravilhas de Portugal (Aldeias de Mar), a Fajã dos Cubres.

 

Sempre me senti uma sortuda por ter nascido numa ilha, embora não seja a ilha dos meus sonhos...

 

A ilha dos meus sonhos teria uma praia, com uma enorme extensão de areia branca, onde eu pudesse fazer uma caminhada, todos os dias, ao final da tarde e onde eu pudesse tomar o meu café da manhã com os primeiros raios de sol do dia (basicamente o meu sonho era ter uma pequena casa em cima de uma praia, apenas com a distância segura o suficiente para o mar não entrar pela casa dentro).

 

São Jorge é uma ilha de rocha, de basalto negro... 

 

Mas para quem adora o mar e sonha viver tão próximo dele, pasme-se: eu não sei nadar! 

 

Não me perguntem como é que uma pessoa, que é nascida e criada numa ilha não sabe nadar, porque eu também não sei explicar muito bem (talvez o facto dos meus pais também não saberem, viverem numa freguesia mais afastada da costa e não terem carro explique, em parte, este estranho facto)... mas a verdade é que nunca aprendi e diz quem me conhece (quem me vê a fazer tentativas Verão após Verão) que é apenas o "medo" que me impede.

 

Mas o facto de não saber nadar nunca me impediu de ser fascinada pelo mar e sonhar inclusive estar na proa de um barco, em alto mar, com o meu bikini e chapéu de palha de abas largas (que eu nem tenho), a apanhar sol, tipo turista rica em Saint Tropez, com um bom livro numa mão e um cocktail de frutas na outra.

 

Até me imagino com a tatuagem de uma pequenina e linda âncora no lado interior do meu pulso direito...

 

Mas aí surge um outro pequenino problema... eu enjoo de barco!

 

Pronto. Já se vê que eu não sou uma pessoa que facilite as coisas boas da vida. 

 

Ainda assim, eu até tento...

 

Vivo com alguém que é Marinheiro de corpo e alma. Ele próprio diz que, se pudesse, até vivia sempre no mar.

 

Este mês ele comprou finalmente o barco que sonhava ter (dentro do possível que a conta bancária lho permitiu) e convidou-me este Domingo a dar uma voltinha.

 

Eu confesso que estava muito entusiasmada e já quase me imaginava uma daquelas pessoas todas despojadas que vivem metade da vida numa marina, descalças, com aquelas roupinhas brancas e frescas de linho, com o cabelo amarelado pelo sol...

 

Meti o meu saco de praia "a modos", com a minha toalha de banho para estender no barco, o meu protetor solar, o último livro que comprei (Sobreviver... nome que mais tarde acabou por revelar-se um pouco irónico) e até meti também no saco o meu caderno de anotações e uma caneta para se me sentisse inspirada a escrever o meu próximo post aqui do blogue, já que ainda não o tinha feito (e a única regra que coloquei a mim própria neste blogue foi ter um post novo todas as segundas-feiras).

 

Vesti o bikini, uma roupa levinha, peguei no meu saco, meti os óculos de sol e lá fui eu, convencida que teria uma tarde absolutamente de sonho.

 

SÓ QUE NÃO. 

 

O mar não estava "bravo" como tempestade de grau severo, mas também não estava "chão"!

 

Ao princípio, ainda pensei em ir em pé, apenas agarrada ao varão do barco, com os meus cabelos curtos-médios ao vento, mas o meu outro "Eu" disse: Não sejas RIDÍCULA!!! Tu não te vais aguentar e vais "estatalar-te" no meio do barco, ou pior... sair pela borda do barco fora.

 

À medida que nos íamos afastando da costa, a minha mente ía-se aproximando daquelas imagens da série televisiva "Pesca Radical" que costumava passar no canal Discovery (ou noutro do género), sempre que a frente do barco se fundeava e voltava a reerguer, para voltar a fundear de pancada atrás de pancada... 

 

Eu, de rabo afundado no assento do barco e bem agarrada ao corrimão que estava à minha frente, comecei a perceber que aquilo se calhar não era para mim...

 

O meu nível de stress ía aumentando conforme ía aumentando o nível de balanço do barco e eu disse mesmo alto e bom som: HÁ MUITO TEMPO QUE EU NÃO SINTO MEDO DE NADA COMO NESTE PRECISO MOMENTO!!!

 

E senti que estava tão próxima quanto possível de ter, ali mesmo, um ataque de pânico.

 

E no meio daquele "pré-ataquezinho de pânico", o meu outro "Eu" sarcástico ria desalmadamente e questionava-se se eu poderia ser mais "croma" do que aquilo. 

 

Acabámos por regressar para junto da costa e a idéia era ficarmos ali parados um bocado a relaxar...

 

Tirei a blusa para apanhar sol, descalcei-me, "untei-me" de protetor solar, mas... pouco tempo depois percebi que tinha-me esquecido de uma coisa essencial: VOMIDRINE!!! Um comprimido "milagroso" que eu descobri na minha última viagem à vizinha Ilha do Pico no Verão passado. 

 

Olhei para o meu saco cheio de coisas e percebi que nada daquilo me ía fazer bem nenhum sem ter tomado aquela pequenina droga que evita que eu dê "engodo" aos peixes.

 

E eu tentei. Eu juro que tentei, pela boa vontade e esforços do Marinheiro para que eu me sentisse bem, estar ali "na boa" por mais uma horita ou assim.

 

Mas não deu. Vesti a blusa, meti as chinelas dentro do saco e assim que o Marinheiro atracou, a minha habitual "atrapalhação" para entrar e sair de barcos, fez puff! Eu parecia o Homem-Aranha do barco para o pontão da marina. 

 

E foi nesse preciso momento que senti que o sonho de ser uma verdadeira Marinheira estava em sério declínio.

 

Mas prometo que não vou desistir!!!

 

Da próxima vez só preciso de garantir duas coisas: que o mar está SUPER tranquilo e tomar a porcaria do Vomidrine antes de sair de casa!

 

 

Imagem: No Habitat de uma Introvertida

 

 

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